Literatura e cinema

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  • Um canibal nos trópicos

O documentário revisita a biografia do escritor brasileiro Machado de Assis, abordando-a na perspectiva do leitor diferenciado, que Machado era, traço que fará dele, ao longo de uma carreira ininterrupta de 50 anos dedicados à literatura (em todos os gêneros, do teatro à poesia, do conto ao romance, da crônica à crítica literária), uma águia entre seus pares, um antropófago avant la léttre (termo que só ficaria consolidado na poética brasileira a partir do Modernismo), ou, como evidencia o título do filme, um canibal nos trópicos. Devorador de línguas (francês, inglês, mas também o latim, o alemão e o grego, tendo a todas estudado sozinho, como autodidata), de autores (clássicos antigos e modernos, que lia vorazmente em chave crítica) e, sobretudo, de culturas (as matrizes judaica e greco-romana, sem descuidar das matrizes afro e indígena), que o autor, como um observador arguto, subverte a partir de uma leitura irreverente da tradição em prol da reforma da sociedade, da cultura e da arte nacionais. Essa irreverência é possível de ser posta em ação somente por meio de um espírito livre e desabusado, de alguém que nasceu na periferia do capitalismo, de onde e do qual fala, sem excluir a necessidade de urbanização e sem lhe poupar as tiranias, levando-se em conta o modus operandi da sociedade escravocrata do Rio de Janeiro oitocentista.

Direção e roteiro de Edson Martins, visa, por meio da mise-en-scène e de uma trilha sonora escolhida a dedo (Jorge Ben Jor, Baden Poweel, Emicida, Criolo, Martinho da Vila, Chico Science, Nação Zumbi) devolver à crítica da cultura brasileira um ponto controverso (polêmico até): os silenciamentos sobre a origem negra de Machado de Assis. Neto de escravos, negro e filho de um pintor de paredes (ourives) e de uma lavadeira, o menino pobre terminará a vida aclamado como grande romancista e contista, e primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras, celebrado em jornais da época como “o Homero brasileiro”. 

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